Ferido na Kiss diz que é difícil esquecer o cheiro de queimado

Unknown | 08:49 | 0 comentários


Gustavo Riet, de 34 anos, estava no Hospital Universitário de Santa Maria.
Incêndio em boate na madrugada do dia 27 de janeiro deixou 238 mortos.

Apesar do alívio de estar em casa, as lembranças da tragédia que matou 238 pessoas e o cheiro de queimado da boate Kiss atormentam o estudante e empresário Gustavo Riet, 34 anos. Ele teve alta na sexta-feira (1), em Santa Maria, após melhorar da pneumonia química causada pela fumaça tóxica inalada na madrugada de 27 de janeiro. Durante o incêndio, ele foi um dos jovens que pegaram instrumentos para ajudar a quebrar a parede da boate.
Na primeira noite após deixar o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), foi até a  frente do prédio onde funcionava a casa noturna e reviveu a madrugada trágica. “Cheguei lá no final da tarde e senti de novo o cheiro de queimado. Não há como esquecer aquele cheiro”, disse aoG1 o estudante de engenharia acústica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e proprietário de uma oficina de som automotivo no bairro Presidente Vargas. O local, além de funcionar como oficina, era o ponto de encontro dos amigos.
O odor se mistura aos sentimentos de alívio, pela melhora, e luto por amigos que não se salvaram. O mais lembrado é Ubirajara Soares Bastos Júnior, o “Pexe”. “Eu queria sair do hospital e ir ao enterro, mas os médicos me disseram que se eu fosse, pioraria e teria de ir para a UTI. Pedi que um amigo falasse com os pais e ele me contou que o pai disse: ‘infelizmente o meu filho faleceu, mas o Gustavo vai preservar a vida dele’, conta o jovem.
Um dia depois do incêndio, a oficina de Riet não abriu. Um dos funcionários teve a tarefa de preparar uma faixa em homenagem a Júnior, que ainda está lá. Ele ainda pensou em pedir a outro empregado para levar uma camiseta da oficina para o sepultamento. Não precisou. “No dia seguinte, um amigo me disse que todos se emocionaram quando a nossa camiseta foi posta sobre o caixão. O Bento, funcionário da oficina, colocou sem eu pedir”, contou Riet.
Mesmo mais de uma semana depois do incêndio, Riet ainda sente dores na garganta. O que o abalou, no entanto, foi o trauma exposto no dia seguinte à liberação do hospital. “Um funcionário colocou fogo no lixo e comecei a passar mal. Tive de sair de perto. Não achei que ficaria mal como fiquei. Não achei que ficaria traumatizado”, diz o jovem.
Aos poucos Riet retoma a rotina. Ele aproveita a baixa procura nas oficinas para se recuperar. “A cidade está de luto. Estão todos tristes, então a loja está parada. Nem estou com ânimo para trabalhar”, confessa.
Ao contrário de grande parte dos alunos da UFSM envolvidos na tragédia, o empresário não voltou às aulas nesta segunda-feira (4). Como os professores aderiram à greve e o período seria recuperado em janeiro, ele decidiu se dedicar exclusivamente à loja no período de grande movimento. “Lojas de som automotivo bombam em janeiro e fevereiro, e eu correria o risco de ser reprovado por faltas. Achei melhor dar uma parada e voltar no semestre que vem”, explicou.
Não foi só a vida de Gustavo que mudou. Segundo ele, Santa Maria não é a mesma. Depois da tragédia, ele acredita que as pessoas aprenderam a conviver melhor. “As pessoas param de brigar por bobagens. Uma amiga que não falava comigo há dois anos veio se desculpar. Caras que não se davam bem por causa de mulheres deixaram as brigas de lado. As pessoas perceberam que a vida é muito curta e somos muito vulneráveis”, contou.
Resgate
Riet ajudou a resgatar algumas pessoas de dentro da boate na hora do incêndio. Primeiro, as arrastou para fora do estabelecimento. Depois, no entanto, a polícia impediu quem fazia o resgate de voltar à boate. O jeito foi pegar uma marreta e quebrar uma parede.
“Em 10 minutos, abrimos um buraco grande. Depois, pedimos máscaras aos bombeiros para tentar entrar por ali, mas eles disseram que só tinham uma. Não havia como. Nosso trabalho foi em vão. Depois que vimos fotos de pessoas mortas lá dentro, percebemos que poderíamos ter puxado alguém por ali mesmo”, lamenta.
Fonte: G1

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